domingo, 24 de maio de 2009

"Ela não gostava"

“Ela não gostava de histórias de amor....
Romances de amor.
Filmes de amor.
Poemas de amor.
Reencontros, finais felizes, em histórias de amor.
Achava o amor invenção de espíritos fracos, como a fé.
Fragilidade desnecessária.
Fonte de dependências e complicações.
Perca de individualidade.
Não era uma mulher fria ou frígida, apenas não acreditava e não gostava da palavra amor. Satisfazia a vontade de sexo não criando afectos, compromissos.
Quando o conheceu estava já numa idade tranquila.
Tinha construído a vida, livre de presenças permanentes e de saudade.
Por ele, olhou para trás pela primeira vez na hora da despedida.
Pela primeira vez quis rever alguém.
Pela primeira vez desejou ficar depois de saciado o corpo.
Ela dizia-lhe:
- Nunca digas que me amas ou partirei !
- Nunca direi que te amo!
E a palavra amor, era palavra proibida.

Sempre que sentia crescer nele a palavra;
Sempre que sabia que ele a ia proferir, calava-o.
Selava a palavra na boca dele, com a sua.
E a palavra amor...era silêncio.
Ele perguntava:
- Porque não queres que diga a palavra?
- Porque não a queres ouvir?
- Porque fazes da palavra vergonha e segredo?
Ela calava-se...
Calava a promessa feita numa cama de menina com ódio de mulher.
Calava... como fechava os ouvidos para não ouvir a palavra. Calava, como cerrava os lábios quando lhe pediam para a dizer.
A palavra amor, sinal de aceitação, rendição.
A palavra amor, palavra que mataria a menina em si.
Ela dizia-lhe depois, quase em súplica:
- Nunca digas que me amas ou partirei...!
- Nunca direi que te amo...!

Um dia ele não apareceu....
O silêncio do amor tornara-se fardo insuportável
Um sentimento novo e indesejado cresceu dentro dela.
Tentou ignorar o chamamento do corpo.
Calar a vontade...
Calar a saudade...
Quando não resistiu.
Quando desistiu da luta e se rendeu, ligou-lhe. Disse triste:
- Amo-te....! - ... E desligou.
Ele correu para ela.
Esperara tanto tempo voz e palavra.
Abriu a porta da casa dela com a chave que era a sua.
A chave que ela não dera antes a ninguém.
Escrita nas paredes do corredor, na sala, saindo para a rua pelos vidros e persianas.
Escrita a vermelho, como que arrancada de dentro, rasgando, perfurando paredes.
Escrita por toda a casa, estava a palavra “AMO-TE”.
Viu-a na cama...
Nas mãos..., um papel que dizia despedida.
No papel, desenhado por mãos de criança, estava um homem sorridente dando a mão a uma menina de olhos molhados de revolta.
O homem dizia amo-te e sorria.
A palavra fora riscada vezes sem conta... até rasgar o papel...

By Encandescente in Eroticidades